
Asclépio
Carla Marçal Grilo
Arma Eficaz

A pandemia veio
introduzir uma grande preocupação na estação
Outono/Inverno com o aumento dos riscos de
infeções respiratórias, resultantes da
circulação conjunta do vírus SARS-CoV-2 com
os vírus da gripe sazonal.
No período mais
frio do ano predominam as infeções do trato
respiratório superior, as viroses, as
bronquites, com realce para as agudizações
infeciosas da DPOC, pneumonias, gripe e
Covid-19.
A gripe não é uma
doença benigna, sobretudo na população mais
frágil. É uma doença infeciosa do aparelho
respiratório, altamente contagiosa, causada
pelo vírus Influenza. A gripe é geralmente
transmitida por via aérea (propagação de
partículas virais através da tosse ou de
espirros), por contato direto (libertação de
muco diretamente nos olhos, nariz ou boca de
outra pessoa) ou por contato com superfícies
contaminadas. Os sintomas mais comuns no
adulto são a febre, calafrios, rinorreia
(corrimento de muco nasal), dores de
garganta, dores musculares, dores de cabeça,
tosse fadiga e sensação geral de
desconforto. Em crianças também podem
ocorrer vómitos, náuseas e diarreia. A gripe
pode levar ao aparecimento de pneumonia,
tanto viral como bacteriana, mesmo em
pessoas saudáveis.
A pneumonia é uma
inflamação do parênquima pulmonar, área do
pulmão onde se dão as trocas gasosas
essenciais à vida. Os alvéolos e os
bronquíolos respiratórios ficam preenchidos
com líquido resultante da inflamação, não se
realizando as trocas gasosas e com redução
da elasticidade do pulmão provoca
dificuldade respiratória. A pneumonia pode
deixar sequelas irreversíveis, reduzir a
qualidade de vida ou mesmo levar à morte,
principalmente em grupos de risco. É uma das
principais causas de hospitalização e
mortalidade em Portugal.
A melhor forma de
evitar ambas as doenças e reforçar o nosso
sistema imunitário será apostar na
vacinação. A vacina da gripe é segura, com
uma eficácia de cerca de 50% comprovada em
todas as faixas etárias e altamente
recomendável em pessoas com mais de 65 anos
e pessoas de todas as idades com doenças
crónicas, para quem as complicações da
gripe, como a pneumonia, são um risco grave.
A vacina da gripe é constituída por vírus
inativos que provocam a produção de
anticorpos para tentar eliminar o vírus
causador de doença. Posteriormente, as
nossas defesas reconhecem o agente
patogénico e neutralizam-no. De acordo com
as orientações da DGS, aconselha-se a
vacinação a todas as pessoas vulneráveis ou
com indicação para a mesma.
Assegure a higiene
das mãos. Mantenha o distanciamento físico e
siga as regras da etiqueta respiratória.
Não faça parte do
número dos internamentos.
Proteja-se e proteja
os outros.
É imperativo reforçar
a imunização.
Vacinação: A arma
mais eficaz.
Pocahontas!

A norma confirmou o
ditado “Em casa de ferreiro, espeto de pau”.
Apesar de ser controlada como paciente de
alto risco, tudo se desmoronou no dia 21 de
março de 2019. Faltou-me o chão
naquela manhã solarenga. Duas semanas antes
da consulta de Senologia de rotina tinha
feito uma Ressonância Magnética. A médica da
Radiologia não me deixou sair sem fazer uma
biópsia à mama esquerda. Já não era a
primeira vez. Um ano antes tinha tentado
tirar um nódulo e não conseguiu. Estava
marcado, tanto fisicamente como para a vida.
Entrei na sala de exame, olhei para a minha
colega, esbocei um sorriso e disse em tom de
brincadeira para quebrar o medo – “Então
Teresa, fui sorteada?”. Eu como profissional
de saúde tinha consciência que aquele nódulo
me podia alterar a vida. Mas sentia-me bem
física e psicologicamente. Não tinha de ter
medo.
Estava feliz naquele
dia da consulta da mama. Por tudo o que era
e pela família que tinha. Haveria outra
razão para não estar feliz? Não. Toda eu
emanava alegria naquela manhã, apesar de
algum nervosismo. De repente, o dia
transformou-se negro como se de uma
tempestade se tratasse. Sentei-me em frente
à médica. E após abrir o meu processo
clínico, algo não estava bem. Os seus
grandes olhos verdes expressaram preocupação
ao ler o resultado anátomo-patológico da
biópsia. “A notícia que tenho para lhe dar
não é boa”, foram as palavras que lhe saíram
da boca. Senti um arrepio pelo corpo. Deixei
de sentir o chão numa fração de segundo. E
os meus sonhos? E a minha família? E o meu
trabalho? E o meu dia a dia? Como seria? Vou
morrer cedo? Porquê eu? Esta situação iria
se repetir ao fim de alguns anos. Lembrei-me
da minha mãe com cancro da mama e a sua luta
pela vida durante anos. Do meu pai que não
teve tempo de lutar contra o cancro no
cérebro. Toda eu tremia. E com as primeiras
lágrimas a saltar dos olhos, respondi:
“Tenho Cancro da mama.” Não conseguia
processar os passos que se seguiriam. Pedi
para o meu marido entrar. Ele é o meu Porto
de Abrigo. Naquele momento, ele era o único
que conseguiria processar a informação e os
passos seguintes “Operação e Tratamentos”.
Chorei. O meu cérebro só processava as
palavras Cancro e Morte.
Eu sabia como
profissional de saúde que a ciência está
muito avançada e que o cancro da mama se
tornou numa doença crónica. Mas a palavra
Cancro é assustadora. Estava a ser difícil
estar do lado de lá, do lado do doente. Não
estava habituada. Os meus olhos pareciam a
foz de um rio. E como iria dizer aos meus
filhos? E às minhas irmãs e irmão? Todos
eles me tinham enviado mensagens a perguntar
como tinha corrido a consulta. Estava a
queimar tempo para arranjar coragem.
Finalmente, respirei fundo e dei a notícia.
Do outro lado da linha, com cada um deles
senti um silêncio que pareceu uma
eternidade. Iríamos reviver tudo outra vez.
A operação, os tratamentos, os enjoos, a
queda de cabelo… Senti o dia infindável.
As minhas pernas
tremiam de nervosismo. Não era normal. Eu
trabalhava há 25 anos em meio hospitalar e
parecia que era a primeira vez que entrava
num internamento. Fiquei baralhada com
aquela agitação. Todos eles pareciam que
bailavam naquele piso. Os médicos, as
enfermeiras, as auxiliares e até os
equipamentos. Como era possível eu estar
baralhada? Chorava? Fugia? Não podia. Não
servia de nada. Era o início do fim da
doença. Tratar a derrota como a vitória não
é fácil, mas é possível. Após um ano e meio,
entre operação, quimioterapia, radioterapia,
terapêutica de anticorpos e hormonal, exames
complementares, queda de cabelo da
Pocahontas! e sumos de beterraba, sinto-me
bem. Isso é mais importante. Quero viver e
ser feliz.
O cancro da mama é
uma neoplasia (crescimento ou proliferação
anormal, autónoma e descontrolada de um
determinado tecido do corpo) com origem nos
tecidos mamários, geralmente nos ductos
(canais que transportam o leite até ao
mamilo) ou nos lóbulos (glândulas que
produzem o leite). A deteção de nódulo na
mama ou na axila, a modificação do tamanho
da mama, a modificação do aspeto da pele da
mama ou do mamilo e a secreção no mamilo são
sintomas de alerta. É o tipo de tumor mais
comum na mulher (apenas 1 em cada 100
cancros se desenvolvem no homem) e o segundo
mais frequente em todo o mundo. Há entre 5 a
10% dos cancros da mama diagnosticados com
características genéticas e hereditárias que
obrigam a um acompanhamento das famílias.
Os métodos e
tratamentos no cancro de mama, são eficazes
na cura entre 90% a 95%, quando
diagnosticados precocemente. O exame clínico
e a mamografia são meios para um diagnóstico
precoce, sobretudo a partir dos 40-45 anos,
sendo determinante para os resultados
clínicos alcançados.
Esteja atento aos
sinais de alerta e principais mecanismos de
prevenção.
Repense os seus
valores e prioridades.
Tenha uma vida
saudável.
Prevenir é o melhor remédio. A defesa é o melhor ataque.
Tic-Tac, Tic-Tac

Para assinalar o Dia
Mundial do Coração (29 de setembro) venho
promover e sensibilizar os leitores para a
importância de cuidar do nosso coração e
prevenir as doenças cardiovasculares. O coração é um órgão
muscular presente no sistema cardiovascular
que funciona como uma bomba. Ele contrai e
relaxa de forma rítmica, bombeando o sangue
que o organismo necessita e consumindo a
menor energia possível durante cada
batimento. As contrações são
controladas por correntes elétricas que
percorrem o coração de forma precisa,
seguindo trajetórias e velocidades
específicas. A corrente elétrica tem origem
num marca-passo natural do coração (nódulo
sinusal), localizado no alto da aurícula
direita. A frequência cardíaca é determinada
pela frequência com que o nódulo sinusal
descarrega a corrente elétrica e pelos
níveis de hormonas específicas na corrente
sanguínea. O coração de um
adulto saudável em repouso bate regularmente
a cerca de 60 a 100 batimentos por minuto.
Deve ser considerado um ritmo cardíaco
anormal se as sequências de batimentos
cardíacos forem irregulares, muito rápidos
(mais de 100 bpm – taquicardia), muito
lentos (inferior a 50/60 bpm – bradicardia)
ou se percorrerem o coração por vias
anormais de condução elétrica. O quadro
clínico é inofensivo em pessoas que
apresentam batimentos irregulares
ocasionais. No entanto, as arritmias podem
ser desconfortáveis e, por vezes, colocar a
vida em risco. O coração pode não ser capaz
de bombear sangue suficiente para o corpo,
causando danos no cérebro, coração ou outros
órgãos. Todas as patologias
que atingem o coração ou a circulação
sanguínea podem causar insuficiência
cardíaca. As patologias mais comuns que
podem originar o seu desenvolvimento são: - Doença das artérias
coronárias Estamos a viver
tempos sem precedentes. Não sabemos que
curso a pandemia tomará no futuro, mas
sabemos que cuidar dos nossos corações é
mais importante do que nunca. Se tem um
problema de saúde subjacente, como as
doenças acima referidas, não deixe o
Covid-19 impedi-lo de fazer os seus
check-ups regulares. Seja consciente.
Tic-tac, tic-tac, ouça o seu coração! Um ato importante
numa altura em que o mundo enfrenta uma
pandemia.
Contemple o mundo
que o rodeia, desfrute e celebre a vida.
Este é um destino que fará bem ao seu
coração.
As alterações de
saúde mental são consideradas as doenças
sociais mais inquietantes da atualidade,
tanto pelo aumento de morbilidade como por
afetarem de forma aguda a tranquilidade, o
bem-estar e o equilíbrio da vida familiar e
da comunidade. Segundo a OMS (2002),
a saúde mental é “o estado de bem-estar no
qual o indivíduo realiza as suas
capacidades, pode fazer face ao stress
normal da vida, trabalhar de forma produtiva
e frutífera e contribuir para a comunidade
em que se insere”. O sentimento de
bem-estar é diferente e subjetivo de
indivíduo para indivíduo, dependendo do
contexto económico, social, cultural e
político em que se insere. A saúde mental é
fundamental para o bem-estar do indivíduo e
é inseparável da sua saúde física, sendo
necessário encontrar uma saudável harmonia
entre a mente, o corpo, os comportamentos e
as relações. A evidência
científica aponta para um impacto na saúde
mental de 25% do total de população afetada
pela pandemia num futuro a longo-prazo,
principalmente em crianças e jovens, que
colocam em perigo a sua sociabilização
geracional. A sala de aula contribui para a
igualdade e socialização, para que crianças
e jovens escapem um pouco a meios familiares
mais desfavorecidos. Quantas crianças e
jovens não estão a sofrer de solidão, tédio,
violência doméstica e fome? O isolamento é
importante para proteger a saúde física,
impedindo o contágio de um vírus, mas quanto
mais tempo estivermos isolados maiores serão
os riscos de doenças psiquiátricas. O
confinamento pode ter originado sintomas
psicopatológicos (depressão, ansiedade,
medo, irritabilidade, insónia, entre outras)
em indivíduos com condições mais
vulneráveis. As condições económicas
decorrentes da pandemia, nomeadamente o
risco de desemprego está associado a um
agravamento da saúde mental da população e
ao aumento de stress pós-traumático. Devido
às medidas preventivas de saúde pública,
muitos familiares e amigos ficaram privados
dos abraços, dos afetos, da socialização.
Até no luto se viram privados da despedida
do seu ente querido. Fechados numa bolha
auto-suficiente, em que tudo o que está para
além da porta das nossas casas não tem
relevância! Cidades, vidas e
economias estão suspensas! Parou-nos a boneca! O medo é paralisante.
É preciso acabar com o discurso do medo. A
incerteza e o medo estão a minar a saúde
mental dos indivíduos e as suas relações
interpessoais. Qual será o
verdadeiro impacto da pandemia na saúde
mental e os seus efeitos colaterais? A nível
anatómico cerebral, como serão afetadas as
áreas de associação pré-frontal,
parieto-temporal ou límbica? Estaremos a
caminhar pelo desconhecido, sem bússola? É muito importante
cuidar da saúde físico-mental, porque estão
intrinsecamente ligadas.
A vida é a maior
empresa do mundo. Só você pode evitar que
ela vá à falência.
O risco de uma
segunda vaga de Covid-19 é extremamente
elevado, em que o número de pessoas
suscetíveis de contágio permanece alto e de
imunizado baixo. Segundo as
autoridades de saúde, “Um indivíduo
infetado é transmissor do vírus desde 2
dias antes do início de sintomas, sendo a
carga viral elevada na fase precoce da
doença”.
As gotículas
respiratórias do vírus SARS-CoV-2 (Covid-19)
são grandes e não permanecem no ar por muito
tempo, caindo em superfícies próximas.
Qualquer pessoa pode ser infetada se as
gotículas caírem sobre a boca, o nariz e os
olhos ou tocar numa superfície com essas
gotículas e depois tocar no rosto. A maior parte dos
contágios faz-se em primeiro lugar em
contexto laboral, sendo alastrado
posteriormente ao seio familiar. É
aconselhável prudência no desconfinamento,
desde o distanciamento social, as medidas de
higiene, etiqueta respiratória e o uso de
máscara facial, principalmente em espaços
fechados.
Com a propagação
do Covid-19 a nível mundial, o uso de
máscara cirúrgica, respiradores ou
comunitária tornou-se quase omnipresente e
obrigatória em transportes públicos, no
comércio, em escolas e noutros espaços
fechados. O seu uso serve de barreira quando
uma pessoa espirra ou tosse, ajudando a
reduzir a propagação de gotículas da boca e
do nariz do utilizador e a minimizar os
riscos de contágio comunitário de uma
possível infeção por SARS-CoV-2 ou outro
tipo de coronavírus. Para uma proteção
facial eficaz, o uso correto deve cobrir
desde o nariz até ao queixo e ajustar-se bem
ao rosto. Deve permitir respirar sem
restrições. Em Portugal, a DGS
tem seguido as orientações da OMS e do ECDC
(European Centre for Disease Prevention and
Control) no âmbito da pandemia de Covid-19.
De acordo com as orientações e normas
publicadas, é recomendável o uso de máscara
cirúrgica a profissionais de saúde, a
pessoas com sintomas respiratórios ou mais
vulneráveis (idosos, doentes com doenças
crónicas ou com o sistema imunitário
comprometido, pessoas que entrem e circulem
em unidades de saúde, bem como elementos de
alguns grupos profissionais (bombeiros,
agentes funerários, entre outros). Apesar de não estar
provada a eficácia da utilização
generalizada de máscaras comunitárias na
prevenção da infecção por SARS-CoV-2 é
recomendável o uso de máscaras por todas as
pessoas como medida para reduzir a
propagação do vírus e de proteção adicional
ao distanciamento social, à higiene das mãos
e à etiqueta respiratória. Proteja-se, por si e
por todos. A decisão é sua, é de todos.
E saboreie a vida,
como se saboreia um pastel de nata, com ou
sem canela. .
Parou-nos a boneca!
Com ou sem canela